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A Europa de 1896 tinha contornos muito diferentes em relação ao século XX. A ordem política tinha outro desenho e as populações de diferentes etnias se misturavam de acordo com os fluxos comerciais e culturais da época, independentemente dos limites dos Impérios já estabelecidos e das repúblicas que se formavam no continente europeu do final do século XIX. Foi nesse ano e nesse contexto que surgiu o DFC Prag, um clube formado por judeus alemães em Praga, cidade do Reino da Boêmia, que conformava o Império Austro-Húngaro, mas com forte presença de população germânica.
O Deutscher Fußball-Club Prag nasce num contexto cultural e esportivo no qual o futebol já era praticado e difundido, ainda que numa esfera aristocrática. A região do Império Austro-Húngaro, à época governado pelo imperador Francisco José, já vivia o futebol de forma entusiasmada. Em 1897, as notícias que chegavam de Viena deixavam o terreno fértil para uma rivalidade entre as principais cidades dos reinos que compunham o Império.
Surgia, em Viena, a Der Challenge Cup, que colocaria frente a frente os clubes de cada região, principalmente das principais cidades do Império: Viena, Budapeste e Praga. Àquela época, imaginar uma competição continental era um delírio, ainda mais com o esporte, embora emergente, estar engatinhando quanto à sua popularidade. A Der Challenge Cup era o embrião da Taça Mitropa, que ganharia relevância a partir do final dos anos 1920.
Apesar dos clubes da Boêmia só participarem da Der Challenge Cup a partir da edição 1900/01, realizada entre outubro e abril dos respectivos anos, o DFC Prag, no início de 1900, faria parte dos 86 clubes que fundaram a Deutscher Fußball-Bund, a federação alemã de futebol, embora estivesse fora dos domínios territoriais do Império Alemão.
A reunião que deu origem à DFB aconteceu em Leipzig, onde se reuniram os representantes das 86 agremiações das diferentes associações. O cenário era efervescente, mas havia uma forte rejeição à modalidade inglesa. Aqueles homens reunidos se opunham às ideias conservadoras de Karl Planck, retratadas no livro “Fusslümmelei: über Stauchballspiel und englische Krankheit” (algo como “Os pés molengas: sobre o jogo de bola e a doença inglesa”).
O autor defendia, como sugere o título, que o futebol era uma afronta às modalidades e os valores esportivos já estabelecidos na Alemanha naquela época, como a ginástica. Segundo Planck, um ginasta e professor patriótico, a ginástica preparava melhor os jovens para o serviço militar. De acordo com Planck, o futebol era um jogo “absurdo, feio e pervertido”.
[Fundado em 1860, o Turnverein München — que viria a se chamar TSV 1860 München — adotaria o futebol como uma modalidade em 1899, até ali, o clube era restrito às atividades tradicionais.]
Dentre os representantes presentes na assembleia que daria origem à DFB, estava Walther Bensemann, em nome de seis clubes, e também o bacteriologista Ferdinand Hueppe, representando os dois clubes de Praga: DFC Prag e DFC Germania Prag.
Naquele encontro, ficou definida a formação da DFB e também que Ferdinand Hueppe — o membro mais velho daquela assembleia — seria o presidente da recém-fundada federação alemã.
Ficava então formalizada a primeira associação nacional alemã, que só conseguiu organizar um campeonato três anos mais tarde. Foi no final de maio de 1903 que teve início o primeiro certame. O torneio contou com a presença de seis clubes representando, cada um deles, uma associação-membro da recém-criada DFB, e cada jogo seria disputado em uma cidade, definido previamente o mando de campo.
O primeiro jogo, em 3 de maio, entre Altona 93 — campeão da associação de futebol de Hamburgo — e Magdeburg FC Viktoria 96 — vencedor de sua liga — teve como vencedor o time da casa por 8 a 1.
Já o segundo jogo, disputado entre Berlin TuFC Britannia 92 e VfB Leipzig, em Berlim, teve vitória dos visitantes por 3 a 1.
O terceiro jogo seria entre DFC Prag e Karlsruher em Munique, um campo neutro, porém, o clube de Praga não concordou com a definição, alegando que se o jogo fosse disputado na Boêmia haveria mais fundos arrecadados paras a realização do jogo. Devido ao impasse, os dois clubes foram “classificados” para a semifinal, e o vencedor jogaria contra quem ganhasse entre Altona 93 e VfB Leipzig, que jogariam em Leipzig em 17 de maio.
O duelo que não aconteceu anteriormente, entre DFC Prag e Karlsruher, desta vez aconteceria também em Leipzig no mesmo dia. Porém, houve uma situação inusitada que explica bem como eram aqueles tempos e por que demorou tanto tempo para se organizar um campeonato após a fundação da DFB. Um telegrama foi enviado para o Karlsruher dizendo que o jogo havia sido reagendado, evitando assim que o clube viajasse até o leste alemão.
Entretanto, a DFB declarou o Karlsruher desclassificado e o DFC chegou à final sem ter disputado um jogo sequer e enfrentaria o VfB Leipzig, que derrotou o Altona. No duelo entre os times fundados por Walther Bensemann e Ferdinand Hueppe, prevaleceu, talvez, a força política do então presidente da DFB.
O jogo final foi agendado para Altona, distrito a oeste de Hamburgo. Desfalcados de seus principais jogadores austríacos, impedidos de jogar por também militarem em outros clubes na época, o jogo foi um atropelo por parte do VfB Leipzig, que venceu por 7 a 2. O árbitro do jogo foi Franz Behr, jogador do Altona no primeiro jogo do campeonato. Ele seria nomeado vice-presidente da DFB naquele ano. Em 1904, Behr se mudou para o Brasil, e faleceria no Rio de Janeiro em 1948.
A participação do DFC Prag no campeonato inaugural seria a única. No campeonato seguinte, em 1904, a agremiação não participou e outro episódio envolvendo o Karlsruher acabaria cancelando a disputa da final e mudaria para sempre a relação do DFC Prag com o futebol alemão.
Após perder para o Berliner TuFC Britannia 1892, o Karlsruher protestou pelo agendamento do jogo para a casa dos adversários. O clube alegou que seus jogadores não tinham conseguido folga de seus patrões para viajarem até Berlim. O trajeto levava 13 horas e as passagens de trem acordadas, de terceira classe, também se tornaram um problema, uma vez que o clube exigiu o reembolso de tíquetes de segunda classe para minimizar o cansaço do percurso.
Os oito times disputaram as quartas-de-final e a semifinal, e no dia da final, 22 de maio, quando também aconteceria a reunião anual da DFB, em Kassel, sede do jogo, o duelo foi cancelado e o presidente, Ferdinand Hueppe, deixou o cargo. E Friedrich Wilhelm Nohe, presidente do Karlsruher, assumiu em seu lugar.
A motivação da renúncia de Hueppe foi a decisão da DFB de se associar à Fifa, que havia sido fundada no dia anterior em Paris. Com a afiliação à nova entidade que visava controlar o futebol no mundo, a DFB ficava impedida de contar com clubes de fora dos limites do país. Era o fim da presença do DFC Prag nas competições alemãs.
O clube seguiria com as duas atividades em Praga, disputando competições e amistosos, porém, apesar de um auge esportivo em meados da década de 1910, quando cedeu vários jogadores à seleção austríaca, o DFC Prag — por causa de sua relação com a comunidade judaica — seria um alvo fácil do Terceiro Reich.
Em 1938, com a tomada dos Sudetos — regiões da Boêmia com população predominantemente germânica — por parte do regime nazista, o alerta foi ligado e muitos dos jogadores judeus do clube resolveram fugir. Porém, Egon Reach e Fritz Taussig foram capturados pelos nazistas e enviados para Theresienstadt, um campo de concentração no norte da Boêmia, e, mais tarde, ambos faleceriam no holocausto promovido pelo Reich.
O futebol continuaria as suas atividades, reorganizado, porém, em novas ligas criadas a partir do Anchluss — como ficou conhecida a anexação da Áustria — e o que restou do DFC Prag foi fundido ao FC Deutscher Sportbrüder Prag em 1940 e deram origem ao Nationalsozialistische Turngemeinde Prag, conhecido como NSTG Prag. Apesar de vencer as ligas do Sudeto e de ter participado dos campeonatos e das copas de 1941 e 1942, o clube desapareceu com a Segunda Guerra Mundial.
Jornalista, publicitário e fotógrafo. Estudou comunicação social na Universidad Nacional de La Plata. Para Martinho, não existe golaço de falta (nem aquele do Roberto Carlos em 1997 contra a França ou de Petković em 2001 contra o Vasco). Aos 11 anos, deixou o cabelo crescer por causa do Maldini. Boicota o acordo ortográfico.
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